Casa localizada em Letchworth (Reino-Unido)
A concepção cidade jardim apresentada no livro “Tomorrow: a Peaceful Path To Real Reform”, de 1898, de Ebenezer Howard (1850-1928), também conhecido por “Gardens Cities of Tommorrow”, editado em 1902, expressa uma alternativa à cidade industrial vigente, na qual os operários viviam em condições péssimas, baseada na harmonia entre o homem e a natureza.
A solução proposta, resultou da análise das vantagens/ desvantagens da cidade vs campo, e foi designda de “town-country”. Nesta 3ª alternativa aproveita-se o que de melhor têm as cidades e o campo.
De salientar que Howard viajou bastante, se atendermos à época (EUA, Austrália). Estas viagens terão influenciado substancialmente o seu modo de pensar o urbanismo.
Uma das maiores virtudes de Howard reside na forma como apresenta as suas ideias com grande simplicidade e com uma capacidade extraordinária de conciliar a teoria com a prática; esta terá sido eventualmente a chave do sucesso das suas ideias.
Na sua primeira formulação, a cidade jardim era constituída por seis cidades satélite, em torno de uma cidade ligeiramente maior central, a área total era de cerca de 2400 ha, sendo a população máxima das cidades satélite de 32000 habitantes e da cidade central de 58000 habitantes. Nos espaços entre as cidades seriam constituídos por campos de cultivo, florestas, pastagens para gado, etc..
Howard não se limitou ao desenho urbano também tinha preocupações económicas e políticas. Para o financiamento destas cidades Howard propunha a compra de um terreno rural, a um preço baixo, através da urbanização e do aumento da população o valor do terreno aumentava, o que permitia pagar o investimento. A cidade jardim propunha não apenas a saída da metrópole, mas também outro sistema produtivo e outra organização social (1), face ao capitalismo da época. O sistema social e económico seria baseado na cooperação – encontramos aqui a influência tanto de Bellamy como do Kropotkine do «apoio mútuo» - e nas associações de bairro (2). O socialismo não seria estatal, mas antes descentralizado e local (2).
Casa original de 1906, Lechworth (Reino-Unido)
A primeira cidade jardim a ser construída, sob orientações de Howard, foi Lethworth (1904), localizada a cerca de 50Km a norte de Londres. Letchworth foi construída pela companhia The Garden City Pioneeer Company (1), tendo sido convidado os arquitectos Raymond Unwin (1863-1940) e Barry Parker (1867-1947) para a elaboração do plano, já que Howard não era arquitecto. Toda a cidade é rodeada por uma coroa verde, tem um centro cívico e comercial no centro, sendo atravessada por uma linha de caminhos de ferro. O crescimento populacional de Letchworth foi mais lento que o esperado, apenas atingiu os 15000 habitantes em 1938; só ficou completa depois da II Guerra Mundial, numa escala mais reduzida que a original, nos anos 60 foi alvo de especulação financeira ao ponto do governo ter intervido (3).
Em 1919 Howard compra um terreno a 30Km de Londres e ergue aí a sua segunda cidade jardim – Welwyn – a partir dos planos de Louis de Soissons (1890-1962).
Vista aérea de Welwyn (Reino-Unido)
O conceito de cidade jardim, apesar de adulterado, teve uma forte influência em diversas cidades/ subúrbios inglesas que surgiram posteriormente, tais como Stevenage (1946) e Hemel Hempstead (1947).
A obra de Ebenezer Howard é traduzida em várias línguas, tendo diversos princípios da cidade jardim se espalhado por países como: Japão, EUA, França, Bélgica, etc..
No Brasil, as cidades de Maringá e Cianorte, ambas localizadas a Norte do Estado do Paraná, construídas nos anos 40, têm inúmeras características de cidade jardim (1).
A obra de Howard evolui para outros conceitos, nomeadamente os corredores verdes, nos quais Raymond Unwin chegou a trabalhar. Poder-se-á afirmar que o conceito (com cada vez maior relevância) de Eco-Urbanismo teve a sua origem com Ebenezer Howard.
Referências:
(1) Zueleide Casagrande de Paula, A Formulação e Expansão da Cidade-Jardim, Prof.ª do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Paraná.
(2) Thierry Paquot, Revista Urbanisme n.º 343, Julho-Agosto de 2005.
(3) Peter Hall/ Colin Ward, Sociale Cities: The Legacy of Ebenezer Howard, 1998.
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