Jornal digital 'Observador', extractos de artigo de Marta Leite Ferreira, 19 Out. 2017, intitulado: Gabriel Roldão: “O Pinhal de Leiria já está morto há 12 anos”:
O incêndio que matou o pulmão florestal de Leiria já tinha sido previsto há muito por Gabriel Ramos Roldão, estudioso e investigador da história da Marinha Grande, que acabou de lançar um livro com 748 páginas sobre a história do Pinhal de Leiria. Para ele, por detrás dos motivos que justificam o porquê de este incêndio ter acontecido, “está uma longa história”: “O que correu mal? É que o Ministério da Agricultura e Florestas, através do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF), descapitalizou o Pinhal. Todos aqueles trabalhos de jardim que fazemos em nossa casa, de limpar a relva, cuidar das plantas, replantar flores, esses trabalhos básicos de renovação, restauro e replantação deixaram de ser feitos. O Pinhal é o mesmo, tem os mesmos hectares, e sabe quantos trabalhadores tem agora? 18. Antes tinha 700“.
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Este processo garante uma receita de entre três e quatro milhões de euros, que é pouco para o potencial do Pinhal. E mesmo assim, conta Gabriel Roldão, apenas 6% é usado na própria Mata e somente para “pagar a uns quantos engenheiros e mangas de alpaca”. Os outros 3,76 milhões de euros lucrados com o Pinhal serão “usados pelo ICNF para sustentação de outras florestas“.
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É assim há muito tempo, mas especialmente desde 2003. A 2 de agosto desse ano um grande incêndio consumiu 2.560 hectares de Pinhal por causa de um fogo posto por jovens que incendiaram pinhas e as atiraram para as árvores. “O fogo foi para norte e para sul e queimou uma zona grande junto ao mar a sul da Praia Vieira até por baixo do Ponto Novo“, explica Gabriel Roldão. Parte da área de proteção do Pinhal ficou reduzida a cinzas e deixada ao abandono: a vegetação desapareceu. Hoje, a areia que D. Afonso III queria travar nas dunas já cobre todo o solo numa extensão de mais de 500 metros.
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(…) é referido que 80% da zona de mata ardida há 14 anos está ao abandono, à mercê de um novo incêndio. “Isso constitui um desastre económico e ambiental. Não só há perigo de haver aqui um novo incêndio, como todos os anos se perdem milhares de euros deixando tantos hectares parados”, conta Gabriel Roldão ao Observador. E esse não era — nem é — o único problema da Mata Nacional: por cá, “ninguém limpa as matas, ninguém quer saber do património que está deixado ao abandono e em ruínas e ninguém liga às estradas esburacadas, tapadas ou intransitáveis” que serpenteiam o Pinhal. Na lista de problemas formulada pelos especialistas e entregue ao ICNF constam também a falta de trabalho de cultura no pinhal mais jovem, a destruição das dunas causada pelas motas, o facto de as árvores mais novas estarem a ser cortadas para alimentar a indústria, e a falta de conhecimento sobre o ordenamento do território.
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Fonte do textos acima, Jornal digital 'Observador', extractos de artigo de Marta Leite Ferreira, 19 Out. 2017, intitulado: Gabriel Roldão: “O Pinhal de Leiria já está morto há 12 anos”.