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E no dia em que, desinteressados das leis da biologia e seduzidos pelas maravilhas da industrialização, nos entregámos à tarefa, adorável e fácil, de construir a nosso modo e a nosso gosto a floresta; no dia em que trouxemos de longínquos países os prodígios da sua flora lenhosa; e plantámos as árvores em linhas, numa formosa exibição de disciplina; e suprimimos a manta viva espinhosa e hostil, abrigo de pequenos seres vivos antipáticos e imundos; calculámos, ordenámos e tabelámos para criar enfim, contra a Natureza, o povoamento requintadamente artificial – fomos forçados a reconhecer que acometemos tão ousada, vã e frágil empresa como foi a de erguer, para a conquista do ceu, a torre de Babel.
Fonte da imagem: Salve a Selva
Sabemos hoje que, em tais condições, arborização assume carácter depredatório; o capital lenhoso constitui-se à custa do fundo de fertilidade anteriormente acumulado; surgem modificações regressivas no solo e na vegetação; o revestimento arbóreo degrada-se à medida que as revoluções se sucedem e, numa palavra, desfalca-se e empobrece-se o património nacional.
Os problemas florestais, como os grande problemas agrícolas, não podem ser vistos apenas no âmbito da produção quantitativa e do lucro imediato. Por detrás de toda a exploração intensiva anti-natural, como novos cavaleiros do Apocalipse, a erosão, o declínio da fertilidade, a degradação do arvoredo, a ruina, enfim, ameaçam a terra portuguesa.
A silvicultura pode e deve ser ser construtiva. Não basta que ampliemos no espaço o património florestal pela arborização de novas terras; há necessidade de encarar a sua projecção no tempo, isto é, assegurar a perpetuidade dos povoamentos, mantendo pelo menos intacto o potencial de fertilidade do solo.
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FONTE DO TEXTO: A CONTRIBUIÇÃO DAS CIÊNCIAS BIOLÓGICAS PARA O RESSURGIMENTO FLORESTAL PORTUGUÊS, J. VIEIRA NATIVIDADE, DIRECÇÃO GERAL DOS SERVIÇOS FLORESTAIS E AQÜICOLAS, 1943.
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